A primeira coisa que você deve saber é que, se não tem dinheiro para comprar à vista (e bem pouca gente tem), terá de juntar pelo menos 20% do valor do imóvel que pretende comprar para dar de entrada no financiamento. Esse é o valor mínimo aceito pelos bancos. Nenhuma instituição séria vai financiar, sozinha, 100% do imóvel e se financiar, desconfie.

SAC x Tabela Price: qual é melhor para você?

De acordo com uma estimativa de Rafael Sasso, cofundador da Melhortaxa, plataforma digital de comparação e auxílio de crédito imobiliário, o brasileiro leva entre dois e três anos para conseguir juntar dinheiro suficiente para dar entrada no financiamento. Mas isso só se seguir um planejamento financeiro.

“Independentemente do preço do bem, seguindo algumas recomendações de economia, leva-se em média de dois a três anos para conseguir acumular a quantia inicial de 20% de entrada sobre o valor do imóvel”, calcula Rafael Sasso, cofundador da Melhortaxa.

Exemplos: a entrada de 20% equivale a R$ 80 mil para um imóvel à venda por R$ 400 mil, R$ 150 mil para um de R$ 750 mil e R$ 200 mil para outro que custe R$ 1 milhão.

A segunda coisa que você deve considerar é que o imóvel dos sonhos pode não ser para o seu bico, pelo menos não agora. O valor do seu financiamento depende da sua renda. O banco não vai financiar 80% do valor de um imóvel de R$ 800 mil para uma família com renda mensal de R$ 4 mil.

As parcelas dos financiamentos, por regra de concessão de crédito, só poderão comprometer até 30% da renda bruta do tomador de crédito.

O terceiro ponto para ter em mente é o seguinte: quem tem nome sujo vai ter muito mais dificuldades de conseguir um financiamento e, mesmo que consiga, vai pagar taxas absurdas que só irão perpetuar o estado de ‘endividado’. Por isso, se tem dívidas, corra para negociá-las ou quitá-las e fique bem na fita.

“Logo de cara, a pessoa deve pesquisar e pensar em qual imóvel ela quer e se ele cabe no bolso. Será que este imóvel cabe na minha vida financeira? Para responder essa pergunta tem de partir para simulação de financiamento. E não é só isso, precisa colocar na ponta do lápis todas as despesas, não só parcelas. Muitas vezes o maior erro é dar um passo maior que as pernas”, afirma o planejador financeiro da Fiduc, Valter Police.

FGTS: Você pode, sim, usar o dinheiro do FGTS para dar entrada no seu imóvel, tanto para dar o valor integral se seu saldo for o suficiente, quanto para completar o que é necessário. Uma das prerrogativas para saque do fundo é justamente a compra de imóvel. Mas quem tem um bom saldo deve aproveitar para dar uma entrada maior e pagar menos juros no financiamento.

Quanto dinheiro guardar por mês?

Considerando que hoje você vá começar do zero sua caixinha, a educadora financeira Luciana Ikedo faz uma previsão de quanto você precisaria guardar por mês. Nas contas, ela considera uma carteira diversificada com rentabilidade nominal de 0,33% ao mês para atingir o objetivo de dar a entrada na casa própria dentro de três anos.

  • Entrada de R$ 80 mil para um imóvel de R$ 400 mil (levando em conta a renda da família para liberação do crédito): R$ 2.096,50
  • Entrada de R$ 140 mil para um imóvel de R$ 700 mil – (levando em conta a renda da família para liberação do crédito): R$ 3.668,87
  • Entrada de 200 mil para um imóvel de R$ 1 milhão – (levando em conta a renda da família para liberação do crédito): 5.241,24

Vale destacar que se você investir em aplicações mais conservadoras que remunerem somente 100% do CDI (1,9% ao ano ou aproximadamente 0,13% ao mês), terá de aumentar o valor guardado por mês para chegar ao objetivo. Ou terá de adiar a compra do imóvel.

O tempo

Por que planejar com antecedência?

Veja bem: juntar dinheiro para um propósito se torna mais fácil se você souber usar o mercado financeiro a seu favor. Quando você sabe exatamente onde aplicar o dinheiro para aquele objetivo, tudo fica mais certeiro e, claro, mais rápido.

Quanto maior o tempo de antecedência antes da data de pagar a entrada do imóvel, melhor. Isso porque enquanto você espera, vai poder colocar o dinheiro em investimentos com juros mais atrativos que só se vê em aplicações de médio e longo prazo e que vão ajudar seu dinheiro a crescer mais rápido.

Vamos supor que você queira comprar seu apartamento daqui três anos. Se você começa a investir hoje, poderá aproveitar opções como as letras de crédito (LCI/LCA) que são isentas de imposto de renda e podem ter remuneração melhor a médio prazo.

  • Nova opção de LCI paga 150% do CDI em um ano
  • Retornos de CDBs, LCIs e LCAs são inflados com queda da Selic. Vale a pena?

Também há fundos com estratégias de médio prazo e até mesmo os bons e velhos títulos do Tesouro Direto, que vão pagar melhor quanto mais longo for o vencimento. Outras alternativas um pouco mais arriscadas de renda fixa são CDBs e títulos privados (como as debêntures) com vencimento mais para frente.

Até existem aplicações com mais liquidez (que você pode resgatar o dinheiro a qualquer momento), mas os juros, principalmente agora que a Selic está em 2% ao ano, são bem baixos. Torna tudo mais difícil, e demorado.

Por isso, ter um prazo mínimo para seu objetivo é essencial, mesmo que ele possa ser adiado depois de um tempo.

A entrada e outros custos

De repente, ao ler a matéria até aqui, você pensou: ‘poxa, já tenho o dinheiro para a entrada’. Ou algo como: ‘falta bem pouco para chegar aos 20% da entrada’.

Nesses casos, há quatro coisas para serem avaliadas antes de você comprar o imóvel.

  1. O preço dos imóveis
  2. Os juros historicamente baixos
  3. Fatia do gasto com juros
  4. Outros custos para compra e manutenção

“Os preços naturalmente vão subir. Já estão subindo, na verdade. A procura por crédito deve continuar batendo recordes”, alerta Sasso, da Melhortaxa.

Para o executivo, quem já tem o dinheiro deve aproveitar o momento que combina imóveis com pouca valorização nos últimos anos e as taxas nunca vistas no mercado brasileiro, que estão em cerca de 7% ao ano mais Taxa Referencial (atualmente em zero).

Quanto mais o interessado demorar, maior a probabilidade de pagar mais caro por conta da subida dos preços do mercado imobiliário. Pode acontecer de o comprador querer esperar uma queda maior dos juros para economizar 1% de taxa e o preço do imóvel que ele desejava adquirir acabar aumentando em 10%”. Ou seja, a conta não fecha.